domingo, 17 de agosto de 2008

Arrependimento

"Deixo tudo assim
não me importo em ver
a idade em mim
ouço o que convém
eu gosto é do gasto

sei do incômodo
e ela tem razão
quando vem dizer
que eu preciso sim
de todo o cuidado

e se eu fosse o primeiro
a voltar pra mudar
o que eu fiz
quem então agora eu seria

ahh tanto faz
e o que não foi nao é
eu sei que ainda vou voltar
mas eu quem será?

deixo tudo assim
nao me acanho em ver
vaidade em mim
eu digo o que condiz
eu gosto é do estrago

sei do escândalo
e eles tem razão
quando vem dizer
que eu não sei medir
nem tempo e nem medo

e se eu for o primeiro
a prever e poder
desistir do que for dar errado

ahhh ora se não sou eu
quem mais vai decidir
o que é bom pra mim
dispenso a previsão

ahhh se o que eu sou
é tambem o que eu escolhi ser
aceito a condição

vou levando assim
que o acaso é amigo
do meu coração
quando falo comigo
quando eu sei ouvir"

O velho e o moço - Los hermanos


Há momentos em que nos pegamos tentando imaginar a infinidade de rumos que poderíamos ter tomado se tivessemos dito, feito ou não dito ou não feito alguma coisa. Cada escolha nos traz um leque de destinos que opitamos sem saber qual vai ser a continuação da história, quiçá o fim. Saber escolher é fundamental para não nos arrependermos, mas isso nem sempre é suficiente para que não aconteça.
Chorar mágoas passadas, cutucar antigas feridas, imaginar os outros futuros que poderíamos ter vivido, isso trás confusão e incerteza em nossos atos. E se você mudasse o que fez quem então você seria?. Suas escolhas partem de você, são suas, e não de outro alguém (deveria ser assim pelo menos), se é assim porque se arrepender ou julgar que o outro futuro seria melhor? Uma vez perguntei para minha mãe se ela se arrependia de alguma coisa que tinha feito na sua vida.
"- Não.
- Não mesmo?
- É como você perguntar para alguém que está na faculdade se queria poder voltar no passado e estudar mais para aquela prova de matemática que foi mal."
Desde então, eu que já tinha uma posição anti-arrependimento, reforcei a mesma, é bobagem querermos mudar alguma coisa em nosso passado se essa coisa fez parte do que te faz o que é hoje. Defeitos, qualidades, erros e acertos, todos tempos, somos humanos, a busca pela perfeição é tola e estúpida. Não importa o quanto a busquemos, sempre seremos seres humanos, imperfeitos.

O contrário do amor

"O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.

O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência?O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.

Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada....
Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto."
texto de uma Jornalista gaúcha a qual não me recordo o nome

Sobre o texto:
É a mais pura verdade, odiar é uma forma de amar (mesmo que 'errada'), é como aqueles menininhos que vivem dizendo que odeiam tal menina, fazem o inferno na vida dele, mas é só um meio de chamar atenção da mesma.
Ignorar, esnobar, ser impássivel a alguém normalmente é fruto de alguma frustração, que pode ter saído de seu oposto, o amor, ser impássível é um meio de ferir (sem querer) uma pessoa passional.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

FIDELIDADE FORÇADA UMA DESLEALDADE

Ouço tantas vezes milhares de cobranças que as pessoas fazem aos que estão juntas. Milhares de ‘tem que’, o mais dito e exigido é a tal da fidelidade. Não admite-se de modo algum que a pessoa que estamos junto olhe para os lados, a vítima tem que ter uma visão assim como a dos cavalos.
Quer maior deslealdade que exigir fidelidade?
A fidelidade forçada é uma insegurança que carregamos, exigindo do outro que seja dentro do que acreditamos, aliás que nos fizeram acreditar que é o correto. Há muitos casos onde a pessoa mesmo apaixonada, acaba beijando ou fazendo qualquer outra coisa com outra pessoa, mas não houve envolvimento, não houve sentimento. Isso é traição? Ou traição é quando você está com uma pessoa, que só tem olhos para você, no entanto sua mente e emoção está em outro corpo? Eis a diferença entre lealdade e fidelidade, ser fiel é dedicar seu corpo, ser leal é dedicar seu sentimento.
Forçar o outro a ser fiel é assinar o atestado de insegurança e atiçar o desejo pela traição do outro. Ninguém é fiel a ninguém, somos fieis aos nossos sentimentos, a nós mesmos, não importa se você está ou não com alguém você será fiel a você, ao que você sente, não tente mudar isso, pois só traria dores aos dois lados (ou três, ou quatros, sei lá...). O fato é que trair a você mesmo é uma dor incalculável.
Uma pessoa pode ser leal, mas não ser fiel, e vice-versa. Pelo menos para mim o que importa é o sentimento e não o corpo de quem está ao meu lado. O corpo é algo tão vulnerável, repleto de hormônios que podem te seduzir a qualquer momento, os sentimentos não, não somos donos deles, eles é que são donos de nós.
Muitas pessoas julgam a traição virtual sem importância, discordo totalmente, ser trocado por fotos que podem, dependendo do caso, despertar envolvimento, ahh isso para mim é o fim, ser trocada por uma pessoa que se quer existe na realidade.
Claro, não vamos sair por aí agarrando quem vermos pela frente pondo as culpas nos coitados dos hormônios, mas não vamos exigir que alguém abstenha-se do que faz parte dele, o desejo, a necessidade de sentir o seu ego inflado de vez em quando, isso faz parte. Nós somos seres vaidosos, precisamos que acariciem nosso ego as vezes, e chega um certo momento que as palavras que sempre são iguais que são sempre ditas pela mesma boca não surtem efeito.
Por fim, a maior deslealdade é a fidelidade forçada!

Sinceridade

Sou uma pessoa sincera, isso quase sempre é um problema. Vivemos em um ambiente onde quem se expõe é julgado e condenado, enquanto hipócritas aplaudem o circo protagonizado pelos sinceros. Ser sincero pode causar inúmeros danos, mágoas em pessoas queridas, mostrar seus sentimentos e pensamentos e ser repudiado por isso, basta uma colocação mal feita para perdemos o rumo do assunto. Esse é também um dos motivos pelo qual aprecio escrever. Poder concertar o que foi mal expressado, escrever, apagar, escrever novamente, até que fique como imaginado.
Aprecio muito a qualidade da sinceridade, já fui tantas vezes criticada por ser sincera de mais. Tenho, infelizmente, que concordar que muitas vezes falo de mais, até coisas indigestas, que não deveriam ser ditas. Aprender a ficar quieto é uma excelente aprendizagem, que sem dúvida alguma será muito útil! Mas ao mesmo tempo, muitas dessas pessoas que me criticam, quando precisam de conselhos sinceros é a mim que procuram. E as aconselho na maior boa vontade, bem ou mal eu gosto de ajudar as pessoas, pois tem vezes que o que eu mais quero e preciso são palavras, então quando posso faço o possível para auxiliar os outros.
E nessa de ser ou não ser sincero, acabo por administrar mal a sinceridade, falando tudo que penso e quase nada do que sinto, pelo menos não para as pessoas ‘certas’, digamos assim.
Essa super qualidade e enorme defeito que em mim reside acaba por gerar um imenso conflito onde se quer ser, mas não necessariamente parecer.

domingo, 10 de agosto de 2008

Fútil, inútil e outras bobagens

Um mendigo original. - João do Rio

"Morreu trasanteontem, às 7 da tarde, de uma congestão, o meu particular amigo, o mendigo Justino Antônio .Era um homem considerável, sutil e sórdido, com uma rija organização cerebral que se estabelecia neste princípio perfeito: a sociedade tem de dar-me tudo quanto goza sem abundância, mas também sem meu trabalho _ princípio que não era socialista mas era cumprido à risca pela prática rigorosa.A primeira vez que vi Justino Antônio num alfarrabista da rua São José foi em dia de sábado. Tinha um fraque verde, as botas rotas, o cabelo empastado e uma barba de profeta, suja e cheia de lêndeas. Entrou, estendeu a mão ao alfarrabista._ Hoje, não tem._ Devo notar que há já dois sábados nada me dás._ Não seja importuno. Já disse._ Bem, não te zangues. Notei apenas porque a recusa não foi para sempre. Este cidadão, entretanto, vai ceder-me quinhentos réis._ Eu!_ Está claro. Fica com esta despesinha a mais: quinhentos réis aos sábados. É melhor dar a um pobre do que tomar um chope. Peço, porém,para notares que não sou um mordedor, sou mendigo, esmolo, esmolo há vinte anos. Tens diante de ti um mendigo autêntico ._ E por que não trabalha?_ Porque é inútil.
Dei sorrindo a cédula. Justino não agradeceu, e quando o vimos pelas costas,o alfarrabista indignado prorrompeu contra o malandrim que com tamanho descaso arrancava o níqueis à algibeira alheia. Achei original Justino Como mendigo era uma curiosa figura perdida em plena cidade , capaz de permitir um pouco de fantasia filosófica em torno de sua diogênica dignidade. Mas o mendigo desaparecera , e só um mês depois, ao sair de casa, encontrei-o à porta.Deves-me dois mil-réis de quatro sábados, e venho ver se me arranjas umas botas usadas. Estas estão em petição de miséria.Fi-lo entrar, esperar à porta da saleta, forneci-lhe botas e dinheiro._ E se me desses o almoço?Mandei arranjar um prato farto e, com a gula de descreve-lo fui generoso._ Vem para a mesa._ A mesa e o talher são inutilidades. Não peço senão o que necessito no momento. Pode-se comer perfeitamente sem mesa e sem talher.Sentou-se num degrau da escada e comeu gravemente o pratarraz. Depois pediu água , limpou as mãos nas calças e desceu.Espera aí, homem. Que diabo! Nem dizes obrigado.É inútil dizer obrigado. Só deste o que faltas não te faria. E deste por vontade. Talvez fosse até por interesse. Deste-me as botas velhas como quem compra um livro novo. Conheço-te.
Conheces-me?Não te enchas vaidoso. Eu conheço toda a gente. Até para o mês._ Queres um copo de vinho?_ Não. Costumo embriagar-me às quintas; hoje é segunda.Confesso que o mendigo não me deixou uma impressão agradável. Mas era quanto possível novo, inédito, com a sua grosseria e as suas atitudes de Sócrates de ensinamentos. E diariamente lembrava a sua figura, a sua barba cheia de lêndeas... Uma vez vi-o na galeria da Câmara, na primeira fila, assistindo aos debates,e na mesma noite, entrando num teatro do Rocio, o empresário desolado disse-me:_ Ah! Não imaginas a vazante! É tal que mandei entrar o Justino._ Que Justino?_ Não conheces? Um mendigo, um tipo muito interessante, que gosta de teatro. Chega à bilheteria e diz: “Hoje não arranjei dinheiro. Posso entrar?” A primeira vez que me vieram contar a pilhéria achei tanta graça que consenti. Agora, quando arranja dez tostões compra a senha sem dizer palavra e entra. Um que mal faz?Fui ver o curioso homem. Estava em pé, na geral. Prestando uma sinistra atenção às facécias de certo cômico._ Justino, por que não te sentas?_ É inútil, vejo bem de pé._ Mas o empresário..._ Contento-me com a generosidade do empresário._Mas na Câmara estavas sentado._ Lá é a comunhão que paga.
Insisti no interrogatório, a falar das peça, dos atores, dos prazeres da vida, do socialismo, de uma porção de coisas fúteis, a ver se o mendigo falava.Justino conservou-se mudo. No intervalo convidei-o a tomar uma soda, por não ser quinta-feira._ Soda é inútil. Estás aborrecer-me. Vai embora.Outra qualquer pessoa ficaria indignadíssima. Eu curvei resignadamente a cabeça e abalei vexado.A voz daquele homem, branca fria, igual, no mesmo tom, era inexorável._ É um tipo o teu expectador – disse ao empresário._ Ah! Ninguém lhe arranca palavra. Sabes que nunca me disse obrigado?Eu andava precisamente neste tempo a interrogar mendigos para um inquérito à vida da miséria urbana e alguns dos artigos já haviam aparecido. Dias depois, estando a comprar charutos, entra pela tabacaria adentro o homem estranho._ Queres um charuto?_ Inútil, só fumo às terças e aos domingos. Os charuteiros fornecem-me. Entrei para receber os meus dois mil-réis atrasados e para dizer que não te metas a escrever ao meu respeito._ Por quê?_ Porque abomino a minha pessoa em letra de forma, apesar de nunca a ter visto assim. Se fizeres a feia ação, serei forçado a brigar contigo, sempre que te encontrar._ A perspectiva de rolar na via pública com um mendigo não me sorria. Justino faria tudo quanto dissera. Depois era um fenômeno de hipnose. Estava inteiramente dominado, escravizado àquela figura esfingética da lama urbana, não tinha forças para resistir à sua calma e fria vontade. Oh! Ouvir este homem! Saber-lhe a vida!Como certa vez entretanto, à 1 hora da manhã, atravessasse o equívoco e silenciosos jardim do Rocio, vi uma altercação num banco. Era o tempo em que a polícia resolvera não deixar os vagabundos dormirem nos bancos. Na noite de luar , dois guardas civis batiam-se contra um vulto esquálido de grandes barbas. Acerquei-me era ele.
Vamos seu vagabundo._ É inútil. Não vou_ Vai à força!_ É inútil, Sabem o que é esse banco para mim? A minha cama de verão há doze anos ! De uma hora em diante,por direito de hábito, respeitam-na todos. Tenho visto passar muito guarda, muito suplente, muito delegado. Eles vão-se, eu fico. Nem tu, nem o suplente, nem o comissário, nem o delegado, nem o chefe serão capazes de me tirar esse direito. Moro neste banco há uma dúzia de anos. Boa noite. Os civis iam fazer uma violência. Tive de intervir, convencê-los, mostrar autoridade, enquanto Justino, recostado e impassível, dizia:_ Deixa. Eles levam-me ,eu volto.Afinal os guardas acederam, e Justino deitou-se completamente._ Foi inútil. Não precisava. Mas eu sou teu amigo?_ Meu amigo?_ Certo. Nunca te pedi nada que te pudesse fazer falta e nunca te menti. Fica certo. Sou o teu melhor amigo, sou o melhor amigo de toda a gente._ E não gostas de ninguém._ Não é preciso gostar para ser amigo. Amigo é o que não sacrifica.E desde então comecei a sacrificar-me voluntariamente por ele, a correr a polícia quando o sabia preso, a procura-lo quando o não via e desesperado porque não aceitava mais de dois mil-réis de minha bolsa, e dizia, inexorável, a cada prova da minha simpatia:_ É inútil, inteiramente inútil!
Durante três anos dei-me com ele sem saber quantos anos tinha ou onde nascera. Nem isso. Apenas ao cabo de seis meses consegui saber que fumava aos domingo se às terças, embebedava-se ás quintas, ia ao teatro às sextas e às segundas, e todo dia à Câmara. Nas noites de chuva dormia no chão! Numa hospedaria; em noites secas no seu banco. Nunca tomava banho, pedia pouco, e ao menos alarde de generosidade, limitava o alarde com o seu desolador: é inútil. Teria tido vida melhor? Fora rico, sábio? Amara? Odiara?Sofrera?Ninguém sabia. Um dia disse-lhe:_ A tua vida é exemplar. És o Buda contemporâneo da Avenida.Ele respondeu:_ É um erro servir de exemplo. Vivo assim porque entendo viver assim. Condensei apenas os baixos instintos da cobiça, exploração, depravação, egoísmo em que se debatem os homens se na consciência de uma vontade que se restringe e por isso é forte. Numa sociedade em que os parasitas tripudiam _ é inútil trabalhar. O trabalho é de resto inútil. Resolvi conduzir-me sem idéias, sem interesse, no meio do desencadear de interesses confessados e inconfessáveis. Sou uma espécie de imposto mínimo, e por isso nem sou malandro, nem mendigo, nem um homem como qualquer _ porque não quero mais do que isso._ E não amas? _ Nem a mim mesmo porque é inútil. Desses interesses encadeados resolvi, em lugar de explorar a caridade ou outro gênero de comércio, tirar a percentagem mínima, e daí o ter vivido sem esfôrço com todos os prazeres da sociedade, sem invejas e sem excessos, despercebido como o invisível . Que fazes tu? Escreves? Tempo perdido com pretensões a tempo ganho.Que gozas tu? Teatros, jantares, festas em excesso nos melhores lugares. Eu gozo também quando tenho vontade, no dia de porcentagem no lugar que quero _ o menor, o insignificante _ os teatros e tudo quanto a cidade pode dar de interessante aos olhos. Apenas sem ser apontado e sem ter ódios. ­
­_ Que inteligência a tua!_ A verdadeira inteligência é a que se limita para evitar dissabores. Tu podes ter contrariedades. Eu nunca as tive. Nem as terei. Com o meu sistema dispenso-me de sentir e de fingir, não preciso de ti nem de ninguém, retirando dos defeitos e das organizações más dos homens o subsídio da minha calma vida.É prodigioso ._ É um sistema, que serias incapaz de praticar, porque tu és como todos os outros, ambicioso e sensual.Quando soube da sua morte corri ao necrotério a fazer-lhe o enterro. Não era possível. Justino tinha deixado um bilhete no bolso pedindo que o enterrassem na vala comum “a entrada comum do espetáculo dos vermes”.Saí desolado porque essa criatura fora a única que não me dera nem me tirara, e não chorara, e não sofrera, e não gritara, amigo ideal de uma cidade inteira fazendo o que queria sem ir contra pessoa alguma , livre de nós como nós livre dele, a dez mil léguas de nós, posto que ao nosso lado.E também com certa raiva _ porque não dize -lo? _ porque o meu interesse fora apenas o desejo teimoso de descobrir um segredo que talveznão tivesse.Enfim morreu. Ninguém sabia da sua vida, ninguém falou da sua morte. Um bem? Um mal?Nem uma coisa nem outra, porque, afinal, na vida tudo é inteiramente inútil..."


Vivemos cercados de inutilidades e futilidades, meras vaidades que não nos serviram para nada, não nos acrescentaram em nada. Cortar o inútil, fútil o que não serve, é um bom começo para começarmos a ver quem somos de verdade o quão interessados somos nas coisas, o que nos faz e não faz bem, o que é e o que não é convencionado.
Pode parecer assustador, mas é um modo extremista de vermos nossa verdadeira personalidade. Tenho minhas inúmeras inutilidades as quais não me desapegaria, pelo menos não por enquanto, vejo o quão mesquinha sou quando se trata disso.
Certas manias, objetos, lembranças as quais nos apegamos e não desapegamos a não ser que trabalhemos duro para isso. Tenho cortado o inútil, posso dizer que isso faz um bem danado.

Pra mim ou pro folgado?

Há um tempo atrás, não muito, tive uma aula de história em que surgiu o assunto das cotas em escolas públicas em faculdades públicas.
Os mocinhos da história, ofendidos por 'perderem' sua vaga na faculdade para esses 'folgados' das escolas públicas, ora onde já se viu tamanho absurdo!
Esqueceram-se, no entanto de como é o ambiente escolar, como é o ensino, é fácil achar que todo mundo é do mesmo 'nível' que você, com bons professores, com um ambiente para estudo, favorável, sem ter que trabalhar para viver, é muito bom mesmo, se fosse assim não haveria por que das cotas, realmente.
O ensino público infelizmente não é dos melhores, não há nem como ser, por vários fatores, ambiente, falta de incentivo a falta de oportunidade... Esquecem-se de que apesar da teoria ser linda, não somos todos iguais e nem temos as mesmas chances, mas enfim, não é bem sobre isso que eu quero falar.
Retornando à aula, um aluno diz:
- Sabia que vai aumentar a cota para alunos da escola pública. - então respondo.
- Você sabia que a nossa escola é considerada escola pública? - silêncio. Eis que uma aluna pergunta.
- Então por que pagamos mensalidade?
- Porque é fundação- a professora responde.
A partir desse momento, ninguém mais reclamou das cotas. Estranhamente os alunos começam a concordar com as cotas, apesar de nossa escola ter estrutura de escola particular, bons professores, bom ambiente, bom preparo...
Percebe-se então que tudo que não os beneficia é injusto, mas a partir do momento que beneficia não é nada mais que justo, vai entender.

Estúpidos

É triste ver como as pessoas são tristes
Como são inseguras e tem toda hora que se auto-afirmar
É triste ver a falta de personalidade
A falta de coragem que as pessoas têm de serem elas mesmas
É triste ver a hipocrisia nos olhares, censuras, toques e sussurros
A falta de honestidade nos atos
É triste ver como as pessoas podem ser impassivas
cercadas por razões exatas em suas fechadas vidas
É triste ver o sofrimento de quem se submete
A falta de caráter de quem explora e maltrata
É triste ver como as pessoas tocam os corpos
a falta de toque no intimo, na alma
É triste ver as pessoas
Tão estúpidas e animalescas...

Senhas

Eu não gosto de bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos
Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto
Eu aguento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu aguento até os caretas
E suas verdades perfeitas
o que eu não gosto é de bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto
Eu aguento até os estetas
Eu não julgo a competência
Eu não ligo para etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades
o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos modos
Não gosto
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem...


Senhas - Adriana Calcanhotto, e nem só de rock é feita a vida de uma pessoa.