segunda-feira, 19 de maio de 2008

Querida sogrinha

Venho percebendo o imenso e arrebatador amor que as pessoas nutrem por suas sogras, umas merecedoras, outras nem tanto (pobremas vítimas dos esteriopos).
Ontem li um conto que me chamou atenção, por seu exesso de afetividade, digamos assim.
Contrariando todo o ódio espalhado contra essas pobres criatura (ou não tão pobres).
Pesso que reparem no que é dito por esse cidadão, tão bem intencionado, que acaba de se casar.
Caímos então na discusão sobre o casamento, que porém, não está em questão nessa postagem, deixemos isso para uma próxima vez.
Segue então o conto:

“Senhora presidente:

Na qualidade de futuro diretor-gerente das empresas dirigidas por V. Sa., e também na qualidade de seu futuro genro, submeto à sua apreciação a seguinte Agenda para a noite de núpcias.

  1. Os trabalhos terão início às vinte e três horas na suíte 1102 do Hotel Real Navarino. Trata-se de hotel, e do aposento, habitualmente escolhido por nubentes para a noite de núpcias. O apartamento é simpático e acolhedor; há música ambiental, suave e romântica: uma reprodução de Maja desnuda proporciona, particularmente para quem vem de um ambiente culto e refinado, como é o caso de sua filha, um sutil estímulo erótico. Providenciarei champanhe, e do melhor; entretanto, proporei de imediato um brinde. Pretendo que o efeito inebriante da bebida elimine qualquer inibição ainda presente na noiva.
  2. A seguir, usarei da palavra, fazendo um breve, mas emocionado retrospecto de um namoro apaixonado, de um noivado ardente; e vocarei cenas pitorescas ou temas, cômicas ou dramáticas; ao concluir, abraçarei a noiva, declarando enfaticamente que a amo.
  3. Beijar-nos-emos. O beijo será muito prolongado, da variedade conhecida como ‘de língua’, na qual, modéstia à parte, sou mestre. Com esse beijo tenho despertado poderosas paixões, inclusive nas mais frígidas. Ao final desse beijo, pode V.Sa. crer, sua filha estará gemendo de prazer.
  4. Seguir-se-à a operação de retirada de roupas. Ajudá-las-ei, transformando esse momento numa ocasião para carícias e elogios: aos belos seios, à graciosa cintura, às longas coxas, que, de acordo com Lorca, compararei a peixes movendo-se na semi-obscuriedade. Em seguida me despirei. Ela poderá constatar que seu noivo é uma bela figura de macho, alto, forte, bronzeado; e se, ao avistar o membro viril, soltar uma pequena exclamação, será não de susto, mas sim de excitação.
  5. Folguemos amorosos. Tomarei a iniciativa, começando por pequenos e úmidos beijos no pescoço, na nuca, nas orelhas; e nos seios. Demorar-me-ei a explorar com a ponta da língua os delicados mamilos, passando depois à sucção, o que arrancará a ela, estou seguro, numerosos e repetidos gemidos de prazer. Descendo, prosseguirei, via ventre, aos pequenos lábios, que serão acariciados e sugados. Ela então se renderá completamente e a levarei nos braços até a cama. Com a experiência acumulada em muitos anos (em camas, bancos de automóveis e macegas) decidirei sobre o momento oportuno para penetração e a
  6. Cópula. Será o momento culminante do programa. Tenho para mim que será uma cópula arrebatadora, uma torrente de paixão rompendo as comportas para, em meio a gemidos de prazer, culminante num cataclismo orgasmo: triunfo do amor!

Cópula realizada, direi, ainda que ofegante, belas palavras sobre os belos momentos vividos. Repetirei que a amo, que a amo. E então – sono reparador.

Para a segunda noite, a agenda será ligeiramente alterada, com a introdução de novos tipos de folguedo, e assim na terceira e quarta noites (na quinta não haverá atividades). Ao cabo de meses um padrão acabará por se estabelecer, e tudo cairá na rotina. O noivo, contudo, aguardará ansioso a oportunidade de novas experiências: outra boca a beijar, outras coxas acariciar. Boca e coxas que poderão ser as suas, senhora presidente.”

Agenda para a noite de núpcias - Moacyr Scliar


O que posso dizer, é que é no mínimo curioso.

Das duas uma, ou ele tem uma paixão reprimida por sua futura sogra, ou então está meramente interessado no seu cargo, mais exatamente em mante-lo.

Acabo de receber a informação que colocaria esse conto com a finalidade de choras, ó céus, não se pode mais analisar um texto que gere polêmica?



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